6 Habilidades essenciais para o designer do futuro
Porque ampliar o olhar para além do desenho da interface

A atuação de um designer tem sido cada vez mais complexa do que apenas resolver problemas através de interfaces digitais.
Não estou me referindo às inúmeras ferramentas e métodos de trabalho que fazem parte da rotina de um designer. A profissão continua exigindo bastante conhecimento técnico, mas existem algumas habilidades essenciais para que design se torne uma profissão madura no futuro.
Tenho percebido, nos últimos anos, algumas dessas habilidades que ajudam a abrir o leque do designer e tornam sua atuação mais completa nos projetos. Isso tem um impacto muito relevante na entrega e em como o design é percebido nas empresas. Nesse texto, gostaria de compartilhar o que acredito ser fundamental para o designer de amanhã.
Bom senso
Não podemos nos iludir e imaginar que tudo é possível ser feito e a qualquer momento. É fundamental ter maturidade para lidarmos com as limitações nos projetos. Seria impossível projetar o sucesso que é a Netflix nos anos 90, sem a capacidade de internet que existia na época.
Bom senso é uma habilidade fundamental em todas as profissões. Temos que entender que qualquer ideia pode ter uma versão simplificada, e é importante estarmos atentos às limitações que os projetos nos oferecem, sejam elas a complexidade de um sistema legado, priorização de ideias ou até o orçamento para tecnologias que poderiam ser matadoras para resolver aquele problema.
Muitas vezes é preciso renunciar algo agora sem esquecer o objetivo final, e isso não precisa ser desanimador. Pelo contrário, entender as limitações técnicas nos ajudam a procurar novas formas de cumprir o objetivo de um projeto. Por isso o bom senso é fundamental para que possamos encarar os desafios de maneira mais natural.
Domínio sobre o negócio
Grande parte dos projetos têm objetivos claros de negócio. É muita inocência nossa imaginar que o trabalho se limita somente ao desenho de um produto que vai satisfazer o consumidor.
Forma e função devem formar um par perfeito. Assim como o usuário quer resolver o seu problema de forma eficiente, o negócio tem uma intenção por trás de qualquer produto.
O conhecimento sobre negócio e o mercado da empresa faz muita diferença na entrega de um projeto. É fundamental entender a língua do segmento que estamos atendendo.
É como se tivéssemos aprendendo um novo idioma. Entendemos uma nova cultura para nos comunicarmos de forma eficiente. O mesmo acontece quando estudamos o linguajar de uma empresa ou de um assunto específico.
Como designers, é super importante ter uma rotina de estudo relacionado ao negócio para o qual estamos projetando. Costumo acompanhar as informações relacionados ao tema que estou trabalhando através do Google Alert. Você cadastra o assunto de seu interesse no site, e o Google envia uma lista de conteúdos mais relevantes para o seu email.
Quando unimos o conhecimento de negócio com a nossa habilidade de resolver problemas através do design, passamos mais confiança quando defendemos nossas soluções. Com essa preocupação, conseguimos reduzir as chances de lançar uma funcionalidade ou produto ingênuo, além de garantir que as nossas ideias se paguem e atendam as necessidades do cliente.
É normal nos depararmos com situações onde os responsáveis pelo projeto priorizam alguma funcionalidade a partir de uma decisão da diretoria. É nosso papel deixar claro a importância de testar com as pessoas, para garantir que a decisão faz sentido dentro do contexto que estão inseridos.
Controle do tempo
Precisamos estar atentos para aproveitar o tempo e fazer tudo que for necessário para melhorar a qualidade da nossa entrega. Temos que dedicar um tempo para desenhar interfaces, nos preparar para extrair o máximo de uma reunião e garantir que todos os envolvidos no projeto estejam na mesma página. É necessário também usar parte da nossa rotina para estudar sobre o cliente, seus usuários e tendências do mercado.
Não é tarefa fácil atingir o equilíbrio entre produtividade, eficiência e o lado criativo. Precisamos entender que projetos tem momentos e necessidades bem diferentes. É natural que em cada projeto seja exigido algo diferente, que varia de acordo com a necessidade. Estar atento ao controle do seu tempo ajuda a organizar a atuação esperada de você.
Gerenciar o tempo ajuda o designer a entender o momento certo de parar de trabalhar em uma ideia e partir para a próxima. A priorização ajuda a identificar onde precisamos focar mais energia em cada etapa de um projeto.
Tem sempre aquele momento inicial onde precisamos gerar o maior número de ideias. A mentalidade deve ser um pouco diferente da fase de produção, onde um projeto entra em uma etapa acelerada e que devemos ser mais práticos na entrega.
É tudo uma questão de pensar no esforço e tempo que nos dedicamos, e em como otimizamos o andamento do projeto. Faz muita diferença identificar quando é necessário prototipar uma interface para que o cliente entenda de maneira clara aquilo que estamos resolvendo, ao invés de passar horas pensando em uma apresentação ou tentando descrever um comportamento específico.
Crie um espaço na sua agenda para novos aprendizados. A fome de conhecimento é uma característica muito importante em um designer, não podemos perder a essência investigativa da profissão. Estudar sobre temas que condizem com o seu desafio atual ou tendências que estão inseridas no dia a dia do cliente são fundamentais para despertar novas ideias.
Humildade
A profissão de designer não é mais especial do que outras. O nosso trabalho deve ser feito com bastante profissionalismo e seriedade. Nossa função é resolver problemas sem acreditar que somos os Neymares do Design. O Ego pode ser o inimigo número um do nosso crescimento profissional.
Não recomendo escolher a profissão de designer pelo “glamour”. Seja designer porque você acredita que pode melhorar a vida das pessoas, e sente satisfação por fazer isso.
Seja humilde. A humildade deixa o seu ouvido mais aberto e muito mais atento ao que as pessoas falam. Respeite a opinião do outro, independente da área de atuação Os envolvidos no projeto estão olhando para o mesmo problema com visões diferentes, e cada um deles, com certeza, tem muito a compartilhar.
O trabalho coletivo é fundamental para que o resultado apareça. A humildade é uma característica importante para o bom funcionamento de um time. Respeitar as pessoas é uma habilidade enriquecedora. Não adianta falar que ouvimos os usuários quando projetamos, e não darmos ouvidos quando o cliente traz sua opinião.
Olhar além do design
Como designers, é do nosso interesse ver o produto que desenhamos na rua. Melhor do que criar interações extraordinárias é presenciar o lançamento do seu trabalho e acompanhar o impacto que ele causa na vida das pessoas.
Para garantir isso, acredito que devemos cada vez mais participar de um projeto do início ao fim. O que muda, é a intensidade com que atuamos em cada uma dessas etapas.
No início dos projetos, quando estamos descobrindo mais sobre o problema, os desafios e o contexto dos usuários, é importante que todos do time estejam envolvidos. Participar deste momento, mesmo que pesquisa não seja a sua especialidade, ajuda a trazer mais contexto e cria propriedade e senso de pertencimento para as etapas futuras.
Além disso, quando tudo está para ser lançado, também é nosso papel estarmos próximos aos desenvolvedores para garantir que o produto saia da forma como foi pensado no início. Também é importante estar aberto ao que o time de desenvolvimento pode trazer de contribuição para o seu desenho, do ponto de vista de viabilidade técnica e velocidade de produção.
Primeiro o problema, depois a solução
Nosso trabalho é, em sua essência um processo para resolver problemas. Venho percebendo nos últimos anos uma tendência dos designers já partirem para as soluções antes de entenderem profundamente o que, de fato é o problema.
Essa tendência leva a uma zona de conforto quase que inconsciente, onde escolhemos a plataforma que nos é mais confortável de projetar. Aquela que estamos mais familiarizados e onde, teoricamente, seria mais fácil solucionar o desafio.
Quando nos dedicamos a compreender o problema a fundo, resgatando nossa capacidade holística de investigação, automaticamente nos deparamos com um mar de possibilidades. Só podemos ter certeza de que a solução proposta é a melhor após testarmos inúmeras abordagens.
Devemos abrir nossos olhos para novas formas de fazer e pensar design. Às vezes, isso significa repensar um modelo de negócio, ou criar uma experiência totalmente fora da interface — pensar em plataformas diferentes do mobile e desktop. E porque não fazer em algo que está além do digital? Um produto físico talvez seja tudo o que os seus usuários estão precisando no momento, e essa ideia pode estar sendo ofuscada pelo pensamento padrão de partir para o desenho antes de descobrir a solução ideal.
Para concluir
Essa lista não tem a pretensão de ser definitiva, cada um tem sua própria experiência e pode enxergar mais necessidades e possibilidades para evolução da carreira em design.
O importante é a consciência que o nosso desenvolvimento vai sempre além do craft. Acredito que os pontos citados nesse texto serão cada vez mais cobrados nas empresas, e que o mercado já caminha para um olhar mais maduro da profissão, em que não basta apenas fazer telas incríveis.
Para se tornar um profissional mais completo é preciso se questionar, desafiar e exercitar o seu autoconhecimento. Estar por dentro do universo do cliente e se mostrar relevante para o projeto e para o seu time, com um domínio maior do que cerca a criação e desenvolvimento de um produto.
E para você, quais são as habilidades esperadas para os designers do futuro?
Texto por Rogério Pereira e Bruno Vaz.